domingo, setembro 26, 2010

De Hilda Hilst

Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças,
num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelhada num outro  alguém,
subindo um duro caminho.

Pedra, semente, sal, passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.

7 comentários:

GED disse...

Isto é extraordináriamente bonito.
Gostei mesmo muito.
Obrigado.
Bjs
GED

Bípede Falante disse...

Está dentro de um livro do Mia Couto:
Antes de Nascer o Mundo.
Super lindo livro que, de novo, traz uma Marta e que de novo traz revelações sobre as mulheres.
bjs.
BF

GED disse...

Não tenho esse livro. Como é possível?
Seja como for é muito bonito.
Beijo
GED

Bípede Falante disse...

Oh, que pena! E eu que pensava que você tinha.

Alice Almeida disse...

Olá,
Para todos vós com um abraço de irmã (incluindo a Bípede Falante, claro).
Alice Almeida


PERGUNTA-ME

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me derive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser

se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
MIA COUTO
In "101 Poetas"
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PERGUNTA-ME

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me derive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser

se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
MIA COUTO
In "101 Poetas"

Alice Almeida disse...

Desculpa, Henrique, não sei como fiz que saiu duplicado, não sei se podes apagar um.
Beijo
Alice Almeida

Bípede Falante disse...

Alice, que lindo poema!
Pode vir duplicado, triplicado. Eu gosto de ler mesmo muitas vezes. Então, os olhos só vão descendo pelas linhas. Vou procurar esse livro. Também quero perguntar perguntar perguntar!
beijo :)