segunda-feira, maio 30, 2011

CHUVA


CHUVA
-Diz-me compadre José, tu não achas que a chuva são lágrimas do céu?
- Claro que não Justino. Apenas água que cai das nuvens.
- Sei não. A mim, me parecem lágrimas escorregando pela face das tardes. Tu já provou chuva? Tem sabor de sal na boca da gente
.- Eu andei na escola, sei muito bem que é água contida nas nuvens e que em determinadas condições cai.
- Pois eu te digo compadre José. São lágrimas mesmo. Escorrem-me na face e já nem preciso chorar. Parece mesmo estou a fazer isso. E sempre chove quando estou triste.-
Pode até ser. Já vi tchingange chorando para a chuva cair. E guerrilheiros se escondendo em camas de chuva miudinha
.- Vê compadre? Eu até conheço gente que guarda e pastoreia nuvens e que choram apenas quando elas querem. Rebanhos delas se desfazendo em lágrimas por todo o lado até ao horizonte. Eu gosto de me lavar nessa água. Parece me purifica a alma. E só lágrima faz isso.
- Se calhar tu tens razão. Estou me lembrando da mana Kupilica quando deu à luz. Chovia e o sol era intenso. Parecia milagre. Se calhar eram lágrimas de muita alegria, que lágrima também cai de contentamento. É isso aí, nunca mais vou olhar para a chuva do mesmo modo. A gente tem de olhar para as nuvens com os olhos do coração.

1 comentário:

Bípede Falante disse...

Mo avilo, sinto cheiro de Luandino depois dessa chuva, água de kianda e do seu miondonda funguissada com
as suas letras de feiticeiro, o que acaba em um muzonguè do bom.
"kiangangama mu kanu, kiatouala mu muxima.."
beijo.
BF