terça-feira, abril 29, 2008

NOTÍCIAS DE ANGOLA

Recebi esta notícia sob a forma de email, enviado pelo Karipande a quem agradeço.

Coreógrafa defende reformulação do sistema de ensino no país
29/04/2008

A coreógrafa Ana Clara Guerra Marques defendeu sábado, em Luanda, a necessidade de se rever o sistema de ensino da modalidade artística da dança, com o intuito de a tirar da fase de estagnação em que se encontra actualmente e impulsionar a sua evolução e divulgação.

A propósito do estado actual da dança em Angola, a coreógrafa avança que, apesar de não estar na «estaca zero», se não se rever as metodologias de ensino das danças, tornando-o mais eficaz, haverá muitos problemas, tendo em conta a evolução que se vem registando a nível mundial. Não obstante «o grande esforço» feito pelos profissionais que leccionam na Escola Nacional de Dança, adianta, há muito caminho por andar, exigindo mudanças nos métodos de ensino empregues actualmente, por, no seu entender, já não irem de encontro com as inovações que se aplicam no mundo moderno das danças.

«Se queremos ver evoluções na dança, temos que mudar muita coisa no processo de ensinamento. Temos que nos adequar aos novos métodos modernos, fazendo com que os bailarinos e coreógrafos aprendam cada vez mais e façam cada vez mais coisas novas e boas para a dança», defendeu.

Reconhece existir muito por se fazer. «Não estamos na estaca zero, mas acho que se não se rever a forma de ensino das danças vamos ter muitos problemas. Há que preparar artistas, bailarinos, coreógrafos para mudar a imagem actual e isto só se conseguirá através de um ensino eficaz», disse.

Segundo a coreógrafa, o grande entrave à evolução e maior projecção da dança em Angola prende-se com o facto de se dar pouca atenção às danças tradicionais e populares, um facto que, no seu entender, faz com que se coloque de lado a cultura tradicional do país.

«Não podemos olhar simplesmente para as danças modernas, há que dar-se espaço e tempo ao tradicional, um elemento essencial para a afirmação dos angolanos, da identidade nacional. Temos potencialidades em todos os sentidos, nesta altura é apenas necessário que se dê maior atenção ao que temos dentro da nossa cultura», realça.

Sem formação não haverá pessoas para pensar e desta forma evoluir, fazendo e dando à dança a abrangência que ela precisa e que tem nos outros países, sustenta. «Já vão os tempos em que as pessoas que fizeram história na dança em Angola se preocupavam com a formação artística, procurando maior evolução, não só individual como também colectiva, fazendo com que a dança tivesse maior visibilidade no país e no estrangeiro», apontou.

«É muito importante o aspecto formativo, porque sem formação não temos profissionais, não temos pessoas para pensar e reflectir sobre os problemas da dança. É necessário que se aprenda outros itens para que se possa praticá-la sem problemas».

Considera que muitos grupos desapareceram ou estão em vias de desaparecer pelo facto de os seus responsáveis e integrantes não terem dado grande importância à vertente formativa. Angola possui uma Escola Nacional de Dança, instituição adstrita ao Instituto Nacional de Formação Artística do Ministério da Cultura.

Fonte: JA

sexta-feira, abril 25, 2008

PORTUGAL....NO SEU MELHOR

Ontem na SICNotícias, António José Teixeira dizia o seguinte, a propósito da novela PSD: "O PSD, corre o risco de ser um partido muito dividido nos próximos tempos"!
Ele que me desculpe mas não posso estar mais em desacordo. Apenas porque, já está dividido há muito tempo. Neste momento está em desagregação acelerada. Dificilmente um partido qualquer que ele seja resiste a Barroso, Santana, M. Mendes e L. F. Menezes.
O primeiro fugiu e está num sítio em que o controlam devidamente. O segundo foi o que se viu. O terceiro deve estar a ter imerecidas férias praticando bodyboard o seu desporto favorito. O último assim como veio foi.
Agora perfilam-se vários candidatos e um morto-vivo. E, já há muita gente a tomar posições para derreter o que falta.
É no mínimo falta de decoro, para com o povo português que não merecia isto. A cereja em cima do bolo é este regresso de S. Lopes. O homem de facto não se enxerga.
A verdade é que continuamos sem uma oposição capaz. Assim não há democracia que resista.
Termino dizendo que eu não sou do PSD, nem de lá perto.

sábado, abril 19, 2008

Pinturas rupestres da Tchitandalucúa - Benguela


Desde do alvores do chamado Paleolítico Superior na Europa ou a Later Stone Age na África Austral que o homem deixa marcas da sua passagem. Da passagem cultural, melhor dizendo, das suas construções ideológicas, da sua concepção do mundo que o rodeia, ou simplesmente das suas expetactivas económicas.
Em 73 numa das nossas deslocações aos locais de interesse arqueológico, chegou-nos a informação, na JAAE de Benguela, que um senhor, o Sr. Rosa, conhecia um lugar onde havia umas pinturas estranhas perto da Chimalavera ( reserva natural).

O nosso professor, arregalou os seus olhos e, o prestável senhor logo se prontificou a levar-nos ao local. Lá fomos.
Percorremos a corta-mato uma dúzia de Kms por terras secas cheias de bissapas - unha de gato, chegamos ao lugar chamado de tchitandalucúa, onde não se via viva alma. Sem possibilidades de prosseguir com o Land-rover apeamo-nos. Logo debaixo dos nossos pés reparamos que o chão estava pejado de lascas de sílex, de quatrtzo que identificamos ter sido obra humana.
Uma série de pontas de seta, lâminas, raspadores clássicos, enfim uma panóplia nunca vista. Tínhamos descoberto talvez a maior jazida ao ar livre que tive oportunidade ( e o nosso professor) de conhecer, de material trabalhado segundo a técnica de Levalois. Saltámos todos de júbilo.
Como se fazia tarde, o Sr. Rosa logo nos apressou, dizendo que ainda tínhamos que percorrer, a pé, pela mulola, umas centenas de metros para chegar às pinturas.
O rio seco tinha cavado num sedimento cinzento, uma espécie de kenyon com uma dezena de metros de profundidade e com meia dúzia de metros de largura. Finalmente, já com necessidade de beber umas litradas de água, deparámo-nos com uma espécie de gruta cavada pela erosão da mulola, com duas entradas, perfuradas na rocha sedimentar (siltstone) com uma câmara não mais de 4X3 e com dois de altura máxima.
Ao fundo e quase no tecto, tinha então sido pintado três conjuntos de pinturas a branco. Uma com dois pares de linhas circulares concêntricas com linhas transversais orientadas para o centro da figura; outra com apenas um par e com uma linha cruzada ao centro e finalmente um outro conjunto com figuração antropomórfica e zoomorfa associadas, que parecia claramente tratar-se de um cavaleiro.
Apesar dos círculos concêntricos serem comuns na arte rupestre de todo o mundo, parecendo estar relacionada com a visão do cosmos, já a do "cavaleiro", em Angola é inédita.
De imediato pensamos que se tratava da representação de um europeu ( é claro sempre a visão europeista). Mas depois passado uns anos, pensei que bem que poderia ser de um bantu montando um "boi cavalo", que é usado por exemplo, entre os Kwanyamas ou pelos Mdombes.
Pelo estado da tinta branca é bem possível ter sido pintada há umas centenas de anos ( esperamos que os nossos arqueólogos de Benguela já tenham feito análises à tinta e tenham já datações) mas seguramente depois do século XIII, altura em que terão chegado os bantu ao local, a fazer fé que se trata de um homem e um animal. ( ou serão dois homens um deitado sendo massacrado por outro?)
Quanto aos autores, será ainda mais difícil. Terão sido os artesãos das peças líticas? se assim for, terão sido provavelmente os antepassados dos Vassekeles ou dos Cuíssis. Os mdombes? embora eu não tivesse visto nada neles semelhante, no seu artesantato, que lembre os círculos concêntricos.
Infelizmente, não pudemos continuar as pesquisas.
Mas trata-se das únicas pinturas rupestres localizadas mais a ocidente em toda Angola ( até agora, que saibamos). Para comemorar e tirar o pó das gargantas, fomos todos jantar ao Salvado da Baía Farta, e o menu foi invariavelmente caranguejos e muita cerveja.
As fotos foram tiradas pelo Professor Vitor de O. Jorge na única visita que efectuamos e estão publicadas no jornal " Província de Angola" de 1974 ( não tenho mês e dia apontados) incluídas num artigo de que fui co-autor.




sexta-feira, abril 18, 2008

CHEGA!

Para mim chega!
Tirei férias sabáticas do meu país e do meu clube.
O Benfica perdeu com os lagartos. Bateu no fundo.
E eu não acredito em coincidências. Só vejo à minha volta Luises Filipes. Se são Vieira ou Meneses pouco importa.
Estou de férias.
Um abraço

GED

segunda-feira, abril 14, 2008

A IDADE DO FERRO NA TERRA DO GED

Dedico este texto ao meu colega de Liceu e de Faculdade: Luis Pais Pinto um gandense, já falecido, meu amigo e camarada, fundador do Museu Nacional de Arqueologia de Benguela. Tentou em vão fazer com que regressássemos, para prosseguirmos os estudos arqueológicos.



Apeteceu-me deambular pela História dos povos da região do planalto da Ganda. Ali, entre as serranias do Epale, Hondio a leste o vale do Catumbela junto às comunas de Alto Catumbela e Babaera a Norte, a serra da Chimboa a Oeste e a bacia hidrográfica do Cubal da Hanha a Sul, a população espraia-se em pequenos quimbos. Enquadram-se no grupo dos Ovimbundo, e designam-se por M'Gandas. Como noutros Bantu, as comunidades distinguem-se umas das outras por se agruparem políticamente a uma linhagem, quer dizer, dizem-se pertencentes a um descendente de um soba, ou seja, pertencem a um mesmo soba como na antiga Europa.
As bibliotecas vivas ( os sekulos ) não sabem quantas gerações passaram desde que ali se instalaram ( os estudos mais refinados sobre a tradição oral, permitem chegar a cerca de 400 anos atrás ) pelo que a investigação sobre história local tenha que se rodear de uma série de técnicas para descodificar os sinais do tempo dados pela oralidade, posto que ele, o tempo, não tem o mesmo significado e duração, como entre nós. Por exemplo. quando falam "Ame onekulo sekulo Cahanla" ( eu sou neto do avô Cahanla ) não sabemos se o sujeito referido na frase é o seu avô, ou bisavô, tetravô, ou por aí fora... O tal Caála ou Cahanla pode ter morrido num período de tempo: 100, 200 ou 20 anos. Porém... todos eles dizem que o tal soba veio de outro sítio, sejam eles M'Gandas ou Bailundos ou Seles e se fixou com a sua gente ali.
Esta "amostra" de problemas metodológicos alongar-se-ia, o que não é o objectivo deste post.
Apenas quis dar uma ideia do que se nos depara quando pretendemos pesquisar qualquer facto, sem o recurso à arqueologia.


Localização das estações de Quitavava e Pumbala na carta militar


Regressando à origem da população nesta região, ( vejam na carta os lugares). O que os livros diziam ( há 30 e mais anos que não se publica nada de etnologia e arqueologia sobre esta região, penso eu, como dizem os angolanos "através" da guerra) os M'Gandas chegaram por altura do séc. XVII à região e que esta era ocupada pelos M'Dombes e pelos Vassekeles ( ou Mukankalas ).
Aqueles pressionados pelas invasões dos Jagas, segundo uns, pelos Portugueses comandados pelo governador Bento Banha Cardoso e os seus capitães do mato no início do séc. XVII (1611), fizeram deslocar os povos que habitavam o planalto da Quibala, da Cela para Sul, vindo a atravessar o rio Catumbela e instalando-se nas duas margens. Um grupo deslocou-se mais para o planalto abrigado da Ganda ( na minha opinião esta tese da pressão portuguesa, não parece ter muita ou nenhuma consistência porque não descobrimos nenhuma evidência cultural disso).
Os historiadores Childs, e Hauenstein por outro lado, evidenciam que dentro dos Ovimbundo, os M'Gandas e os Hanha chegaram ao Alto Catumbela, Babaera e por aí fora, no início do séc. XVII, vindos de nordeste, fixando-se os Hanha a sudoeste da Ganda ( Cubal da Hanha ) e os M'Ganda no local onde os conhecemos, embora nada nos digam se vieram do Leste ou do Norte.
Bem... não sabemos sem outros estudos, precisar a origem ( nem os próprios M'gandas sabem ) sem a arqueologia. Até lá é só: "diz-se que...". Ainda dentro deste estado de coisas, o pouco que a arqueologia nos pode dizer é o seguinte:




Foto: Serra do Hondio - Equipa de prospecção da UL - 1973. Foto Ana Sá Pinto


A região foi palco de grandes "macas" entre os clãs Ovimbundo (Huambos, Negolas de Caconda, Hanha, Balombos...) e entre estes e os Ganguelas, Jagas (os célebres Jagas de Caconda a Velha conhecidos dos portugueses) Nyanecas de Quilengues e da Huíla.
Porquê?... Essas guerras são provadas pela fortíssima necessidade de fortificar as povoações, ao ponto de permanecerem em zonas quase inacessíveis como a serra do Hondio (que eu tive, com os meus colegas, a oportunidade de visitar e verificar a complexidade das construções) e as cidadelas fortificadas da Quitavava (Pedreira) descoberta pelo Padre Rocha e a Pumbala (Pedra do Elefante). Essas construções e os objectos neles encontrados, provam um grau de tecnologia avançado idênticas às grandes construções da Zambia e Zimbabue.



Foto: A Quitavava ou Pedreira. Foto em www.cpires.com/alto_catumbela.html

A aldeia foi construída no plateau da montanha granítica e toda a sua extensão. (sem querer estar a dizer que os M'Gandas ou os seus antecessores tivessem vindo dali) e de uma forte organização social (não se governa mais de 1500 ou mais pessoas da Quitavava, se assegura a sua defesa e abastecimentos, sem uma elevada capacidade de administração).







Nas fotos: Escavações da cabana 1 e 2 da Quitavava. Equipa da UL. Julho de 1973. Foto de V.O. Jorge



Foto de artefactos. Ponta de seta em ferro e bordo cerâmico da Quitavava. fotos em www.cpires.com/alto_catumbela.html

A Quitavava e Pumbala, convêm esclarecer, são dois "inselberg" de granito (elevações que sobressaem do planalto como se fosse uma mama) com cerca de 100 metros no primeiro caso e no segundo uns 300 metros em relação ao solo, situados de cada lado do rio Catumbela. No topo foram construídas cerca de 500 cubatas em média no primeiro caso e nos locais de mais fácil acesso foram construídos alguns panos de muralha com pedra vã aparelhada que serviam de sustentação das terras e teriam provávelmente uma paliçada. No primeiro dos montes foi feito um trabalho de escavação de duas cabanas e foi feito o levantamento preliminar de outras, em toda a sua extensão. No segundo apenas uma prospecção com recolha de artefactos para contextualizar o estudo que a equipa a que pertencemos da Universidade de Luanda (Cursos de Letras do Lubango) realizou em Julho de 1973. Nela foram registados uma centena de alicerces de cubatas feitas em pedra, seguindo a mesma técnica do que na Quitavava.



Foto: Abrigo com pinturas rupestres da Serra do Hondio. Julho de 1973. Foto de Dr. V.O. Jorge

A serra do Hondio, quanto a mim o local de maior interesse arqueológico, pelo facto de possuír um abrigo granítico de grandes dimensões com pinturas rupestres semelhantes em importância às de Caninghiri, é igualmente um povoado fortificado absolutamente inédito, à espera de estudos de enormes proporções pela sua extensão.No Hondio, indicado pelo gandense Sr. Joaquim Ferreira Júnior que bem conhecia estes locais, os habitantes souberam construír vários níveis de muralha seguindo as cotas do terreno, formando socalcos suportados por pedra aparelhada. Foram também descobertas grandes quantidades de escória de ferro, resultante de fundição local.



Pumbala. Foto 1: vista do Inselberg Pumbala ("pedra do elefante"), à esquerda, com a serra da Chimboa ao fundo. Foto em www.cpires.com/alto_catumbela.html



Foto 2: Prospecção da UL em Julho de 1973. Vê-se em segundo plano os restos da muralha no rebordo do plateaux. Para terem uma ideia da altura, reparem na árvore em último plano no meio de um arimbo. Trata-se de um mutiate com cerca de 15 metros de altura. Foto de V.O. Jorge

Outra estação importante foi o abrigo 1 da Ganda (distante uns seis Kms, mas com uma diferença de cotas de cerca de 300 m) e foi o único local que mereceu três campanhas de escavações, (não completadas desde 1971 a 1973) e que revelou, entre outras coisas vários artefactos da Idade do Ferro, um forno (cremos que completo) de siderurgia de grandes proporções e que deve ter estado activo umas dezenas de anos, a avaliar pela quantidade de escórias.





Foto: Março de 1973. Abrigo 1 da Ganda. Escavações realizadas pela equipa coordenada pelo Dr. Vitor Oliveira Jorge, nosso Professor de Pré-História. No sentido longitudinal, vê-se a vala de sondagem realizada pelo Boaventura Santos, nosso colega, sob a direcção do Dr. Vitor Gonçalves, um ano antes. No sentido transversal a vala sondagem realizada por nós. Foto de V.O. Jorge

Este abrigo natural é um recôvado num soco granítico com uns 12 metros de boca e uns 3 de altura (em relação aos sedimentos actuais). Serviu de oficina de fundição e o nível onde se situava a calha por onde escoava o ferro derretido, ficava a cerca de um metro abaixo do nível actual. Este facto sem que haja datação pelo C14, permite arriscar que foi construído há mais de duzentos anos e seria contemporâneo, pela semelhança na cerâmica e noutros artefactos, das outras estações citadas.



Na foto: Início da desmontagem dos sectores W da vala Q1, Q2 e Q3. Foi no Q2, onde tebho o pé que se encontrou a 1m, a calha de vasamento do forno de fundição. No quadrado em primeiro plano, também a 1m foi encontrado um esqueleto (pés e pernas) humano. Vêm-se para além de mim a Ana e de costas a Olívia. Foto de V.O. Jorge

Voltando à problemática da História da terra. No local (1973 a 1975) não houve uma só pessoa da população dos mais velhos, que nos dissesse, que alguém lhes tinha contado, que havia aldeias no Hondio ou em cima das pedras da Babaera e Alto Catumbela. Isso parece indicar (até que possamos datar os vestígios que saíram das escavações, através da análise dos isótopos de carbono e termoluminescência) que, pelo menos as fortificações foram abandonadas há mais de cento e cinquenta anos.



Foto: Um algaraviz em barro refractário. Trata-se de uma peça que encaixa no forno e serve de ligação entre o fole e a câmara de fundição. Foto de V.O. Jorge


Os três locais onde se encontraram aldeias montadas em Inselbergs ou serras do vale da Ganda ou do planalto do Alto-Catumbela- Babaera já citados, situam-se numa rota usada pelas caravanas que faziam circular mercadorias do interior do Bié para Benguela e Catumbela, conhecida e explorada desde os primórdios do séc. XVII. Primeiro pelas caravanas de escravos, depois pelas caravanas de cera, do marfim e finalmente de borracha.



Planta do Abrigo 1 com a localização das valas de sondagem em Susana Jorge

Esse facto pode estar na origem dos ataques de exércitos de sobados do interior do Huambo, na tentativa de controlar o tráfego e em consequência da necessidade de defesa dos M'Gandas, daqueles, ou das incursões dos bandos armados pelos funantes, ou mesmo dos portugueses de Benguela (S. Filipe para não confundir com Porto Amboím). A verdade é que o facto de descobrirmos no alto da Pumbala (Pedra do Elefante) na Quitavava, no Hondio (menos) e no Abrigo1 da Ganda, quantidades substanciais de escória de ferro, algaravizes (tubos de argila refractária) e de fornos de fundição de ferro (neste caso no abrigo 1 da Ganda), que demonstram a grande capacidade logística de guerra dos povos aí instalados. Subir uns trezentos metros de altura por pedra lisa quase na vertical, carregando minério, água e alimentos para alimentar umas dezenas de famílias (no caso da Quitavava e Pumbala) só era possível com uma excelente capacidade de organização.
A ocupação do planalto pelos portugueses, só foi possível na segunda metade do séc. XX quando a população passou a considerar vantajoso os negócios ou o emprego na construção do Caminho de Ferro de Benguela e na plantação de eucaliptos para alimentar as locomotivas, já na década de vinte.

Conclusão: Os M'Gandas tal qual os conhecemos, das duas uma: ou são efectivamente anteriores à fundação de Benguela e permaneceram no local até à sua ocidentalização e "pacificação" no início do sec. XX, ou vieram depois de outro povo lá ter estado, que falta averiguar, (seriam os M'Dombes) que entretanto teve que migrar dali. Uma coisa parece ter aceitação de todos: os Hanha pelo seu modo de vida (com mais gado e vivendo mais à volta dele) são os mais antigos na bacia do Bonga, do Cubal da Hanha, mas não devem estar relacionados com as construções amuralhadas. Os M'Ganda vieram depois e devem tê-los submetido, implantando a sua cultura tradicional, mais ligada à agricultura de massambala e menos ao gado e salvo prova em contrário, seriam os habitantes de tais fortificações.
A finalizar: Muito há a fazer para estudar a região e neste caso, só com uma equipa envolvendo várias disciplinas desde a arqueologia até à linguística, como dizia o nosso professor Vitor Jorge há 34 anos atrás. Até lá...só bocas.

Bibliografia: Jorge, Vitor O. "Estudos Arqueológicos na Região da Ganda, Museu de Arqueologia dos Cursos de Letras da UL. Sá da Bandeira (Lubango) 1974.

Jorge, Susana O. "Vasos Cerâmicos do Abrigo 1 da Ganda. Guimarâes, 1976

www.cpires.com/alto_catumbela.html


Este texto foi publicado pelo meu amigo Sá Pinto. A necessidade de o formatar retirou-lhe o nome. É um texto extraordinário e ainda bem que decidiu partilhá-lo connosco.
Um abraço e mais uma vez obrigado.

sábado, abril 12, 2008

PARABÉNS

O autor deste espaço celebra hoje a sua chegada a este planeta fantástico (que ficou mais rico com a sua presença). Que o dia seja lindo com as cores e os sons africanos. Um abraço.

quarta-feira, abril 09, 2008

Amuralhados do Jau - Huíla


Os amuralhados do Jau rodeavam uma porção de uma cornija que dava para um vale com cerca de 1,5Km aproximadamente ( do lado direito da fotografia) escavado por uma ribeira. Foi construído com uma planta mais ou menos elíptica com cerca de 200m no eixo maior e uns 50m pelo eixo menor. Compõe-se de duas linhas de muralha assentes em duas cotas do terreno separadas por uns dez metros. A linha exterior tinha provavelmente dois metros de altura (visível do lado direito) e a do interior cerca de 3m. A comunicação entre uma e outra linha era feito por um espaço em que uma das "abas" se alonga em relação à outra, protegendo assim a entrada. ( visível na foto em primeiro plano) O muro era formado por lagetas de calcário dolomítico cortadas no próprio local. Eram colocadas com inclinação de cerca 30º para o interior da parede de forma a dar firmeza à construção. ( reparar na figura em primeiro plano)

O segundo pano de muralhas era "perfurado" por vigias ( algumas delas de perfil triangular) construídas distando cada uma três ou quatro metros, nuns casos noutras a mais ou menos um metro. ( na foto, abaixo do autor)

Este pormenor arquitectónico a poucos cm do chão, faz suspeitar que se destinava provavelmente à colocação de uma peça de artilharia de pequeno calibre, ou serviria para lançar setas com os arqueiros ajoelhados. Relativamente à cronologia, de acordo com


o que apuramos de um conjunto de inquirições aos sobas da região, teriam sido usadas nas guerras entre Nhanyecas e Kwanyamas durante o princípio do século XIX embora tudo leva a crer que teriam sido construídas bem antes.
O padre Carlos Esterman também as situa no século XIX, presumindo que tivessem sido também usadas nas campanhas de João de Almeida. Pelo facto de não ser evidente a construção de cabanas com base em pedra ou à maneira Muhuíla ( a arqueologia dar-nos-ía essa informação) leva a pensar que seria uma ocupação temporária, enquanto durasse a campanha militar. Infelizmente não foi possível fazer escavações para recolha de artefactos in sito e sobretudo, ossos ou carvões, que permitissem datação por carbono catorze ( foram, contudo, recolhido alguma cerâmica com colo fragmentos de cerâmica com colo decorado com caneluras, vulgares da cultura bantu). Sem tais documentos não é possível indicar se o período de utilização fora longo ou curto e quais os seus construtores/utilizadores. Os sobas não disseram, ou não quiseram dizer, se tinha sido gente Muhuíla ou Ganguela.
As escavações do local, bem como o do Ossi, eram um dos muitos projectos que a equipa de estudos arqueológicos dos Cursos de Letras da Universidade de Luanda tinha em carteira em 1974/75.


O autor, a Ana e o filho do Professor David Birminghan, junto à linha descendente da segunda fila de muralha.





Muhuíla casada ( a secção de cone ao pescoço, simboliza o dote em cabeças de gado ) provavelmente descendente dos construtores do amuralhado. (foto do museu da Huíla)

segunda-feira, abril 07, 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO

Muito se tem falado deste acordo.
Muitos são violentamente contra e muitos são violentamente a favor.
Verdadeiramente, nem de um lado nem de outro os argumentos são suficientemente válidos para serem ouvidos.
Pessoalmente, sou contra tudo isto. Para quê um acordo?
O português nasceu em Portugal e como todas as linguas vivas, tem-se modificado ao longo dos séculos, sofrendo alterações de acordo com a nossa vontade.
O mesmo acontece com as outras formas de português, falado na pátria lusófona. Então porque não deixar o nosso e os outros "portugueses" evoluir livremente. Não se hão-de modificar tanto que não nos entendamos.
O argumento de que por exemplo em Angola, os miúdos lêm por livros brasileiros e de que a maior livraria de Luanda é brasileira não tem razão de ser. Estudei por livros espanhois, italianos, ingleses e ninguém, nem eu, pareceu preocupar-se com isso.
Além do mais, se há preocupação, tem a ver com a ineficácia dos sucessivos governos, na ajuda livreira a esses países e no esquecimento crónico de abrir boas livrarias portuguesas nos nossos países irmãos.
Aparentemente, parece que queremos salvar a lingua portuguesa da forma mais fácil. Encostando-nos ao Brasil!
E, ainda por cima a língua portuguesa não precisa de ser salva.

GED

domingo, abril 06, 2008

NOTÍCIAS DO MEU PAÍS

Sob o título " Contra o colonialismo de Lisboa", no Público de hoje, dizia-se o seguinte:
... Drumond, deputado regional e assumido membro do movimento separatista Flama que perpetrou dezenas de atentados bombistas no pós-25 de Abril, defendeu ontem que a Madeira deveria declarar unilateralmente a indepêndencia caso a proposta de revisão constitucional que o PSD-M vai apresentar em 2010 não tenha o sucesso pretendido.
"Se unilateralmente, abusivamente, autoritáriamente, os vermelhuscos nos disserem que não temos mais autonomia nessa revisão, Jardim ameaçou que "isto não fica assim" e "podemos ter aqui uma situação muito grave". Se tal acontecer, não somos nós que estamos a pôr em causa a coesão nacional. Os separatistas são essa gente de Lisboa, nomeadamente o PS e o PCP, que nos têm perseguido ao longo destes anos.

Ora aqui está, uma óptima oportunidade de fazer um referendo no Continente, para saber se estamos interessados no problema.
Por mim, "bora lá" dar a independência à Madeira.


GED