sábado, junho 18, 2011

E agora?

E agora, que é que eu faço ao livro?

Sim! Que é que faço ao livro que encomendei à agente do Circulo de Leitores?
Do Circulo de Leitores, sim senhor, porque já não sabia que dizer à insistente moça, que por sinal e para mal dos meus pecados tinha o número do meu telemóvel... não sabia onde estava o diabo da revista e não tinha coragem para lhe dizer: Desisto!!! Ela dizia logo – Pense bem Sr. Fernando, Veja lá!
Depois de um passar de olhos apressado à revista do Círculo, eis que me surge: Fernando Nobre-Presidente da AMI – HUMANIDADE “Despertar para a cidadania global solidária”. É este! É este mesmo! (um gajo porreiro, despretensioso, que toda a vida contribuiu para ajudar o próximo – mesmo o distante, ou principalmente esse… às tantas, por isso) – Presidente da AMI! É este!
- Não quer ver com mais atenção, Sr. Fernando? Deixo ficar a revista!
- Não! Não, é mesmo este o livro que eu quero, identifico-me, e muito com este fulano! É este!Independente, solidário, nada o liga a partidos, nem essas coisas… é mesmo este!
E agora?
Agora? Agora faço minhas as palavras do GED...
Não é que agora o homem já aparece em fotos, com uma face algo parada e estranha, com um sorriso bacoco, aquele ar de conveniência... ligeiramente curvado, como convém, seguindo com ar babado aquela, agora, endeusada pessoa, bebendo os seus gestos e esperando alguma sobra?
Que é que eu faço ao raio do livro?
Alguém o quer?
Mando, livre de portes.
fmartaneves
17/06/2011

PS. Ged, pf, pára de pegar com o homem...

terça-feira, junho 14, 2011

FERNANDO NOBRE E NÓS (REMAKE 15)

Lembram-se?
Concorreu como independente à Presidência da República. Dizia ele que era a voz do povo descontente.
Pouco tempo depois, apareceu coligado ao PSD, para ganhar as eleições e ficar no número dois do país, Presidente da Assembleia da República.
O PSD ganhou e ofereceram-lhe um cargo de ministro, que vai aceitar.
Se lhe oferecessem um cargo de porteiro da Assembleia da República aceitaria?
Eu fico na dúvida, mas aceitam-se apostas.

sexta-feira, junho 10, 2011

Poesia soviética

VIDA, VIDA


Não acredito em presságios nem temo
Os pressentimentos. Não fujo nem da calúnia
Nem do veneno. A morte não existe.
Todos são imortais. Tudo também.
Não há sentido em temer a morte aos sete,
Ou aos setenta. Só há aqui e agora, e a luz;
Nem morte, nem escuridão existem.
Já estamos todos à beira-mar;
E eu sou um desses que vasculham as redes
Quando um cardume de imortalidade passa nadando.

Arsênyi Tarkóvski

quarta-feira, junho 08, 2011

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

"Olhamos a estrela como olhamos o fogo.
Sabendo que são uma mesma substância,
apenas diferindo na distância
em que a si mesmos se consomem."

Mia Couto

sexta-feira, junho 03, 2011

OPINIÕES

Em tempos muito recuados, considerava-me ateu puro e duro, hoje vejo-me como um agnóstico. A maioria dirá que é natural e saudável que uma pessoa mude com a experiência e com a aprendizagem, e que mudar é um sinal de grande maturidade. Isto está em profunda contradição, com o que diz um verdadeiro escritor e que eu assino por baixo: “tenho 54 anos e nunca dei por estar a crescer”.
E não considero para além do mais, que neste assunto específico tenha havido qualquer mudança, apenas a vida me ensinou a suavizar as minhas opções e, hoje em relação a tudo o que me cerca, tento manter-me aberto e disponível para aceitar.
Mas desenganem-se.
Eu fui educado dentro de todas as normas e ritos da Santa Madre Igreja. Fui baptizado, fiz toda a catequese, tive a minha Comunhão Solene, fui crismado e por aí adiante. Não foi portanto uma questão de princípios.
A verdade é que a Igreja sempre me apresentou mais obrigações e deveres, do que graças. E nunca me habituei a lidar com o Deus sisudo e severíssimo que sempre me tentaram impor, e muito menos com a ideia de um brutal inferno, onde todos iríamos parar se não nos portássemos bem. Nunca consegui enquadrar esse Deus, como infinitamente bondoso e justo.
E quando achei que já tinha idade, perguntei aos meus pais, porque é que eles que me tinham educado segundo os preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana, cometiam o pecado semanal de nunca ir à missa. Responderam-me, que sempre que tinham necessidade de estar com Deus, ele estava presente. E sei que contactavam amiúde.
Com o sentido de humor, que felizmente herdei, o meu pai dizia-me que não gostava de tratar das coisas no escritório, além do mais através de intermediários, que a História tinha mostrado muitas vezes, que nem eram de confiança. Aquilo que era de facto importante, não podia nem devia ser adiado até ao domingo seguinte.
A partir daí nunca mais frequentei a missa e sei que os meus pais estejam onde estiverem, estão bem. Não deixo no entanto de reconhecer, que há gente que o faz por verdadeira fé, e esses para mim são os únicos, que verdadeiramente acreditam em Deus sem pedir nada em troca.
E foi assim que cheguei até aqui. Desacreditando da igreja e questionando a existência de um ser superior. Carregado de dúvidas e incertezas. E sem ser meu intuito envolver-me em profundezas teológicas, que para isso existe outra gente mais disponível, neste momento à minha frente colocam-se três hipóteses.

Deus de facto não existe e o problema está resolvido. Quando a altura chegar, quatro palmos de terra e adeus que me vou embora. Nada de muito preocupante para mim. Olho para a morte como uma situação inevitável e, se aprendi alguma coisa até aqui, foi que o que é inevitável não nos deve preocupar uma vez que nada podemos fazer para mudar o rumo dos acontecimentos.
Deus existe, e é de facto severo e castrador, tal e qual como a igreja recomenda e propaga aos quatro ventos. Não é um Deus que eu consiga aceitar e a ser verdade, provavelmente irei pagar por isso.

Deus existe, mas é como eu O penso. Igualzinho à própria vida: sereno, doce, justo e acima de tudo divertido e com um enorme sentido de humor, pois só assim, é que ele pode aguentar tudo o que lhe vêm fazendo, ou que fazem uns aos outros em nome Dele.
O cálculo de probabilidades mostra-se a meu favor. Das três hipóteses, duas são-me favoráveis. Ou não existe, ou existindo é como eu O imagino e está neste momento a divertir-se com o que eu estou a escrever. Saberá perdoar as minhas dúvidas, com ou sem um castigozinho a acompanhar (dependendo do Seu humor no momento, mas nunca será nada de aterrador ), uma vez que duvidei Dele.
Quanto a toda a imensa legião de gente, ao enorme rebanho tresmalhado sem o saber, que frequenta a igreja semanalmente, para fazer (como se diz hoje em linguagem informática) o “reset” do disco duro da alma, pensando ter na semana seguinte a oportunidade de cometer todos os seus pequenos crimes e pulhices, que poderão apagar à vontade no domingo seguinte com meia dúzia de rezas e uma confissão de permeio, para esses o cálculo de probabilidades diz que se irão seguramente danar.
É que mesmo um Deus divertido e com um sentido de humor invejável, não deve achar graça nenhuma a isso.
Tudo tem um limite.

quinta-feira, junho 02, 2011

La vida empieza a correr...

La vida empieza a correr
de un manantial, como um río;
a veces, el cauce sube,
a veces, ele cauce sube,
y otras se queda vacío.

Del manantial que brotó
para darte vida a ti,
ay, ni una gota quedó
para mí:
la tierra se lo bebió.

Aunque tú digas que no,
el mundo sabe que sí,
que nu una gota quedó
del manantial que brotó
para darte vida a ti.

Nicolás Guillén