quinta-feira, novembro 29, 2007

SINAIS DO TEMPO

Como qualquer português, de vez em quando sou dado a coisas estranhas.
Como estamos perto do fim do ano e, aproxima-se um ano novinho em folha para podermos estragar à vontade, resolvi mentalmente rever o que aconteceu nos últimos tempos. Pasmei!
Não aconteceu nada.
Do julgamento da Casa Pia, nunca mais ouvi falar.
Do apito dourado, sabe-se lá o que aconteceu.
Fátima Felgueiras? Já ouvi este nome em qualquer lado.
Mentalmente também, ocorreu-me espontâneamente uma frase do Jô Soares, de quem não sou particular apreciador: "eu não sou palhaço, mas estão-me fazendo"!
Tenham um bom ano. Estraguem-no à vontade.

GED

DESAFIO SOBRE A ÉTICA

Mais um amigo, neste caso amiga, que me/nos brinda com o que escreve. Fico devedor.
Um abraço
GED

Um convite não se recusa, e principalmente quando vem de alguém que aprendemos a respeitar.
Obrigada Henrique.

Fiquei uns dias a pensar sobre o que escrever e dei comigo a revolver velhos escritos.
Assim, resolvi repescar um texto que há muito havia escrito e transpô-lo para "este tempo" em que, como administradora de um fórum, procuro pôr em prática o meu pensamento sobre o que entendo dever ser um comportamento ético e as regras de convivência nesse e noutro tipo de espaços na net.

Para isso, me socorri das palavras de meu amigo Frei Betto, num belíssimo texto com o título em epígrafe.

"... foi Maquiavel quem sugeriu aos poderosos o princípio de que 'o fim justifica os meios'. Em seu famoso livro, O Príncipe, ele aconselha: "... e nas ações de todos os homens, e máxime dos príncipes, quando não há indicação à qual apelar, se olha o fim. Faça, pois, o príncipe por vencer e defender o Estado: os meios serão sempre considerados honrosos e por todos louvados..." (Frei Betto)

Percebo que para muitos um fórum é um espaço de encontro, de diversão, para outros, ainda, um espaço em que não deveria haver lugar para divergência de opiniões... como se todos devessem ser bitolados para pensar do mesmo modo, de forma a que não ocorressem discussões. A minha opinião é que um fórum deve ser um espaço plural... isto é, o espaço do "matar saudades", do encontro, da diversão, mas também de debate, de cultura, sempre com respeito pelas opiniões contrárias. No entanto, pensar e debater, com respeito e tolerância, talvez não seja o corolário que se segue na maioria dos casos.
Por outro lado, sabemos que "cada um é como cada qual" e, por isso, difícil é gerar consensos entre todos. Mesmo assim, a sã convivência, na divergência, é possível se nos esforçarmos.

"... Quando se lança mão de irregularidades, de difamações, de trambiques, de fato se está perpetuando a velha sociedade opressora em nome de ideais libertários..." (idem)

"... A vida social exige autolimitação de nossos impulsos, controle de nosso instinto, seleção de nossos valores e opções que sempre implicam renúncias. Não se pode escolher isto sem renunciar àquilo. Em suma, aos poucos, se forja em nós o comportamento ético." (idem)

A ninguém deve passar despercebido quão frequentemente nos depararmos com esta falta de sentido de "autolimitação dos nossos impulsos"! Alguns espaços na net são exemplos paradigmáticos em relação a esta afirmação.

Um fórum de discussão, apesar de ser um espaço virtual, é o espelho do nosso comportamento diário. E, provavelmente, não há quem, nas situações do dia a dia, não controle os seus instintos. As pessoas não agem por instinto e têm liberdade de escolha... No caso vertente, a escolha entre o responder e não responder... a escolha de ler ou não as intervenções de membros que, à partida, podem não ser do seu agrado... a escolha de se mostrar ou não tolerante...

Congratulo-me que no fórum que administro este "ideal" de participação venha sendo praticado. E porque é sempre dia de esperança, transcrevo o que um amigo, nessa altura, deixou:

"Canta, canta e canta!
Mata a mudez do conformado
Canta a plena alma a rebeldia
desassossega o menino sossegado
e diz-lhe que da noite se faz dia."

Maló de Abreu

terça-feira, novembro 27, 2007

INVERNO

Hoje estava um frio de morte.
Vesti-me a preceito, camisa, camisola, casacão, calças grossas e sapatos a condizer.
Fiquei extremamente desconfortável.
Pus os meus óculos de sol, que uso todo o ano, retendo a sensação de que o inverno ainda não tinha totalmente chegado.
Com enorme tristeza, guardei as t' shirts e toda a leve roupa de verão.
E, ainda há gente que tem a lata de me dizer que gosta mais do inverno.
O que vale é que em Fevereiro, vou em busca do sol.
Aguenta aí Angola, que eu estou a chegar.

GED

terça-feira, novembro 20, 2007

CONTOS VELHOS, RUMOS NOVOS




Nestas coisas de andarmos com tralhas às costas, vão-se perdendo muitas coisas, menos as lembranças, ou como se diz em Angola, a "lembradura".

Acontece que aqui há muitos anos, em 1981 eu fui ao Kuito, na missão de reunir com os clubes e associações desportivas, para a construção do primeiro documento legislativo sobre a carta desportiva de Angola, e a lei das associações desportivas, entrei numa loja que era a mais "compostinha" do conjunto de lojas de um prédio, que era o orgulho dos habitantes do Silva Porto colonial, e que passou a ser o emblema mais marcante da ferocidade da guerra desencadeada pela UNITA em 1992. Essa loja era "compostinha" porque efectivamente não vendia nada que pudesse ser utilizado pela população local; De facto esta loja pertencia à CDA (Companhia de Discos de Angola), uma fábrica de discos que existia em Silva Porto, e que salvo erro pertencia à Valentim de Carvalho. Entrei, e fiquei maravilhado com o que por ali vi, o que comprei, e o que tive pena de não ter dinheiro para comprar. Convirá esclarecer que na Angola daquele tempo, se não andássemos com dinheiro atrás de nós, não podíamos comprar nada, e nem o vulgar cheque era possível trocar (Em muitas dependencias do BPA nem o cheque visado em Luanda era aceite).

Foi uma das lojas mais fascinantes que vi em Angola depois da independencia, e aí para além dos Kiezos, Carlos Lamartine, Rui Mingas, Jorge Manuel, Elias, conseguia ter verdadeiras preciosidades, que só me apetecia comprar essa loja, que em tempos se chamou Auto-Reparadora do Bié. Entre vários discos avultavam discos do tipo Luis Aguillé do "Quando Sali de Cuba", o Gabriel Cardoso e a sua "Ericeira", o "Adeus Guiné", o "Kanimambo" do Tudela, para já nem recuar um pouco mais, senão chegaria às musicas preferidas por um topógrafo, que à frente de uma enorme manifestação, desafiou o governo português para pagar as compensações da descolonização (eheheh). Posso mesmo dizer que comprei lá um disco do meu querido e saudoso amigo, companheiro de tantas noites, o Mário Simões, que nunca vi vender em lado algum.

Podia continuar a falar dessa loja, e dos discos que por lá havia, mas o que aconteceu foi que encontrei um disco de José Afonso "Traz outro amigo também", e perguntei ao Laurindo (ex-jogador do Belenenses e Futebol Clube do Porto), que era na altura o delegado da Secretaria de Estado de Educação Física e Desportos, se sabia quem acompanhava o Zeca à viola? Ele dessabia, assim como todos os outros que por ali estavam a aguardar o início da reunião, inclusive o comissário municipal do Chinguar, terra donde o Carlos Correia, vulgarmente conhecido pelo Bóris (pela sua semelhança com Bóris Karloff, segundo Orlando Ferreira Rodrigues, que se assume como seu padrinho de alcunha) era natural.

O Bóris, andou pelo conjunto do Orfeon Académico de Coimbra, depois numa efémera passagem pelos Álamos e depois pelo conjunto académico Hi-Fi. O Bóris teve como companheiro até 1970, o viola-ritmo, Luis Filipe Colaço, um homem de Luanda, que foi durante muitos anos director do Instituto Nacional de Estatística em Angola. O Bóris e Luis Filipe Colaço, foram os violas do José Afonso no disco já mencionado , como tinham sido nos "Contos Velhos, Rumos Novos". Para além disso o Colaço ainda participou nos arranjos do disco de Adriano Correia de Oliveira, o "Canto e as Armas", uma verdadeira pedrada no charco na musica portuguesa, pois o bom do Adriano resolveu dar a voz a um livro proibido pela censura, de um Alegre que clamava por liberdade directamente de Argel, nos negros anos do fascismo em Portugal e colónias.

Resolvi trazer aqui este episódio do Kuito, para poder falar-vos de dois angolanos, profissionais enormes em áreas que nada tem a ver com a musica, mas que fazem parte de um movimento importante da musica de intervenção, e simultaneamente participantes em conjuntos que marcaram o rock português na sua fase pré-histórica.

"Álamos" surgem em 1963, quando José Cid (o próprio, o das "favas com chouriço") decide largar o conjunto do Orfeon Académico para fundar os Babies. Da primeira fase, fazem parte o Daniel Proença de Carvalho (guitarra), o Rui Ressureição (piano) e o Luis Filipe Colaço (guitarra).Em 1968, os Álamos com a saída do Proença de Carvalho (o tal advogado de ca$$os difíceis), à formação anterior junta-se o Carlos Correia (Bóris), o José António Pereira (bateria),José Luis Veloso (guitarra-baixo) e António José Albuquerque (órgão). Quando em 1970 se dá a fuga de Portugal de Luis Filipe Colaço, os Álamos acabam e dão origem com o Bóris e o Ressureição ao Conjunto Universitário Hi-Fi, com a voz feminina da Ana Maria.

Espero ter-vos feito recordar, aos que sabiam deste episódio do muito que se fez por angolanos na Coimbra dos anos 60, e aos que desconheciam que comecem a procurar o "Stop that game", que é o album de referencia dos Álamos.

Mais um amigo que se junta e nos brinda com mais um alicerce, na história das nossas vidas.
Fico-lhe agradecido e devedor.
Um abraço
GED

sábado, novembro 17, 2007

BLOGUE DO CUBAL

De repente recebo um email.
Alguém da "generation next", me diz que está a fazer um blogue do Cubal e precisa de ajuda para o desenvolver.
Só podemos estar orgulhosos e, ajudar.
Chama-se Ruca e é filho do Raúl e da Júlia.
Fica assinalado aqui nos meus links, como o blogue do Ruca.
Estou para ajudar e vocês não se estiquem, como é costume!!!
Um abraço
Henrique

sexta-feira, novembro 16, 2007

NOTÍCIAS DE LÁ

Vem com atraso, mas é para divulgar.

09/11/2007

O Ministério da Cultura (Mincult) procede hoje, durante uma gala a realizar-se no Cine Tropical, em Luanda, a entrega dos prémios das diversas categorias da edição 2007 do Prémio Nacional de Cultura e Artes.

Na disciplina de literatura foi atribuído o prémio à escritora Paula Tavares, pela sua obra poética "Canta o sonho de mulheres feridas e humilhadas", investigação em ciências humanas e sociais coube a António Fernandes da Costa, com "Roturas estruturais do português" e nas artes plásticas foi atribuído, à título póstumo, ao escultor e pintor Rui de Matos.

Na categoria de teatro foi premiado o grupo Horizonte Nzinga Nbandi, cinema e áudio visual à equipa do programa da Televisão Pública de Angola "Conversas no Quintal", enquanto que na disciplina de música foi contemplado o artista e compositor Elias dia Kimuezo.

O grupo Bismas das Acácias, da província de Benguela, venceu na categoria de dança.

CONVIDADO DA SEMANA - SOFIA ÁLVARES


O convite à Sofia terminou nesta magnífica aguarela, que lhe agradeço do fundo do coração.
Espero, esperamos outras. Não resisto à tentação de lhe mostrar o que poderia ser o original.
Um abraço.

GED




domingo, novembro 11, 2007

PARABÉNS POVO ANGOLANO

Que as festas do 32º ano com Nação Independente sejam lindas até de madrugada e que os sacrifícios do passado sirvam de exemplo para o vosso futuro. Um abraço de solidariedade.

sexta-feira, novembro 09, 2007

CONVIDADO DA SEMANA - PHWO - NO COMMENTS

Os meus amigos, não precisam de "drafts" nem de prazos. É com enorme carinho que os recebo aqui, agradecendo a todos a enorme gentileza de participarem.
Um abraço

GED

Há convites que não se podem levar a sério; há outros que não chegam a sê-lo; há uns mais discretos, outros menos, havendo ainda os convites para a dança. E quando chega a vez destes... acabam-se, para mim, as possibilidades de equacionar quaisquer outros.
Porém... aqui estou eu a aceitar o gentil convite do Henrique para escrever no seu blog, o que faço com muito gosto.
Ultrapassada a questão das formalidades, aparece logo outro dilema: sobre o que falar ou comentar, já que por aqui, em Angola, quase tudo usa a legenda "no comments".
Da baía de Luanda que está a ser submetida a aterros brutais para a “requalificação” da marginal, por exemplo? Talvez…
“Ao que parece” trata-se de uma obra pública, mas o cidadão não é informado, pelo que se permite especular à vontade, tentando desafiar a imaginação até aos limites.
“Parece” que a obra é privada pelo que ninguém tem nada a ver (ou a haver?) com os milhares de palmeiras importadas de Miami para a sua decoração (até porque são árvores “exóticas” não existentes em Angola). Mas… o que lucra um privado em investir no alargamento da marginal de duas para seis faixas de rodagem? No comments.
Consta que um projecto chumbado pela sociedade civil há alguns anos está de novo a tomar forma. Deixaram-nos poisar (a nós) e agora lá paira novamente a possibilidade de se fazerem umas ilhas no meio da baía de Luanda, com prédios e respectivo entourage de luxo (quadra para helicópteros também?). Comentários? No.
Fala-se que os clubes Náutico (Nun'Álvares) e Naval vão ser "partidos" e que um Museu de Arte Contemporânea vai ser edificado na ponta da ilha. Salitre? Nível freático das águas? Humidade? Nada que a tecnologia não resolva, seja a que preço for. A Barracuda já está no chão. “Dizem que” por casos em tribunal não resolvidos. Nada a comentar. Ninguém sabe, ou viu quem foi. De noite estava, mas já não amanheceu lá.
E pronto. Com esta dose de água (neste caso, de areia na Baía) que se está a meter, em nome do progresso, me despeço, desculpando-me por qualquer "coisinha”.
O ex-líbris da cidade de Luanda está a ser violado publicamente e… no comments.

Pwo

quinta-feira, novembro 08, 2007

COLONIALISMO?... NEM POR ISSO!

Em resposta ao primeiro post sobre este tema, telefonou-me um amigo, dizendo que eu era incorrigível. Ia buscar documentos de 1929 para cimentar a minha tese!
Chamou-me incorrigível, porque de facto é um dos maiores amigos que tenho. Outro qualquer ter-me-ia chamado filho da mãe ou coisa pior.
Mas vejamos.
Um documento de 1929, fica apenas a a 31 anos de distância de 1960. E reza a história que a ocupação durou quatrocentos anos!
No entanto podemos ir por outro lado.
Nos idos de 60, tinha eu 12 anos, muito perto de ser um "teenager" inconsciente, lembro-me com total clareza de algumas coisas que convido quem quer que seja a desmentir.
Vivia na maior área de sisal do mundo e, sempre que se iniciava a fase de colheita, transporte, desfibra e enfardamento de sisal, acontecia sempre o mesmo.
Centenas de negros presos à corda, eram levados para o "Posto", onde depois eram encaminhados para as diversas fazendas, para o "contrato".
O meu pai, como muitos outros pais faziam o que podiam, para ao menos soltarem aqueles que eram empregados.
E, eu sei do que falo, pois fui muitas vezes ao "Posto" levar o recado do meu pai.
Bem sei, que alguma coisa foi mudando. Na escola primária não tive nenhum companheiro negro.
Em todo o tempo do liceu tive dois.
Um felizmente encontrei-o numa ida a Luanda. O outro, só muito recentemente tive conhecimento do filho e soube que o pai tinha morrido.
É, meu querido amigo, sou mesmo incorrigível.
Mas mesmo com estas diferenças de opinião, continuo a gostar muito de ti.
E continuo a achar que esta história está mal contada.
A única coisa que é verdadeira e, isso sabemos nós, tem a ver com o facto de que apesar de tudo isto, sempre nos estivemos a marimbar para a cor de cada um. Andei a brincar e a lutar e à pedrada, com malta de todos os matizes e continuo assim. Eu pessoalmente apenas detesto o azul, por razões que não têm a ver com esta história
Um abraço

GED

quarta-feira, novembro 07, 2007

CONVIDADO DA SEMANA - KAMBUTA - NOITE DAS MEMÓRIAS

Olá Henrique, primeiro agradecer o teu convite para este espaço que está vivo, arejado e construído na noite. A seguir saltitar pela memória, o que me agrada bastante. Na infância houve factos e personagens que marcaram o meu porvir, vou recordar uma personagem desse rol:


POUCAS FALAS


Era um mulato matulão, calado e sombrio.
Estou a vê-lo sentado no muro que protegia
Um imenso quintal cheio de uma estratégia
Onde o Tavares aprendia, com tal brio
Que, nas raras ocasiões em que o som
Saía da garganta sentíamos um Homem-Bom.

Quando alguém lhe perguntava onde era a rua tal
Respondia de imediato: é na casa do Sr. Bom-Dia!
Se lhe gabavam o que tinha vestido, resposta fatal:
Comprei na casa da D. Carqueja, prima da azedia
E sogra da inveja! Os miúdos do bairro
Idolatravam-no no entardecer cianopirro.

Com ele estabeleceram uma curiosa relação
Em que a comunicação era feita por actos
E não de falas, em que se escutava o coração
Bem antes dos conspurcados dialectos,
Onde, sem pedir, existia uma protecção
Mútua, simétrica e rodeada de circunspectos
Rituais, imperceptíveis para os miúdos
Mas inatos naquele mulato de olhares barbudos.

Kambuta

Um abraço a todos os que aqui irão permanecer.

domingo, novembro 04, 2007

COMBÓIO MALA


COMBÓIO MALA ATRAVESSANDO O LENGUE

COLONIALISMO?... NEM POR ISSO!

É costume dizer-se que a passagem dos portugueses pelas ex-colónias foi diferente da de outros povos. Muita mestiçagem a comprovar isso.
E, tantas vezes se diz isso, que acaba por começar a parecer que é verdade!

Compro frequentemente livros antigos em alfarrabistas e muito frequentemente também, são livros sobre Angola. Veio-me ter às mãos, um livro sobre o Caminho de Ferro de Benguela, com provável datação de 1929 e, publicado com autorização do Conselho de Administração do C. F. B.. Aqui ficam alguns extractos desse livro.

...Os salões de primeira classe, com corredor lateral, comportam cinco compartimentos grandes e um compartimento pequeno, duas retretes, uma dispensa e varandas nas duas extremidades. O interior é de carvalho com guarnições em teca. Cada compartimento grande tem um lavatório de metal, cuja tampa constitue uma meza movel, cabides e redes para a bagagem. Todos os compartimentos teem campaínhas eléctricas cujo quadro indicador está instalado na despensa. Os salões de segunda classe, tambem com corredor lateral, comportam seis compartimentos grandes e um compartimento pequeno, uma retrete e varandas nas duas extremidades, iguais às da primeira classe. Cada compartimento grande pode comportar seis passageiros sentados ou seis deitados e tem mezas moveis com as disposições usuais.
As carruagens para os indígenas teem bancos fixos laterais e dois bancos longitudinais contiguos, moveis, ao centro. Tem retretes, torneiras com água para beber e uma varanda em cada extremidade.

Sobre o serviço de automoveis Angola a Katanga diz o seguinte nos regulamentos:
... não se transportam passageiros indígenas, excepto como creados, e isso apenas quando haja acomodação.

Sobre mão de obra diz o seguinte:
...Os indígenas de Angola são inteligentes e no Caminho de Ferro eles conseguem ser assentadores de linha, belos guardas de bombas de água, regulares artífices e bons telegrafistas. Há também alguns desempenhando funções de chefes de estação nos pontos menos importantes da linha.

Parece que afinal, aqui e ali, se vai vendo como fomos diferentes dos outros povos!

GED