terça-feira, abril 27, 2021

FUTURO PERFEITO

 


MAR




Tem vezes em que o mar se espanta

Se espuma,  se irrita, recua e avança

Soa na minha porta numa ira incontida

Vagas de origens profundas, distantes

Verdes escuras na garupa dos ventos

Tem vezes que é azul, silencioso, doce

Numa calmaria de convite irrecusável

De mergulhos inesquecíveis no silêncio

Tem vezes que os mares se enchem de rios

Ou os rios se enchem de todos os mares

No vaivém das noites e dias vagabundos

No lugar, onde tempos e marés se dobram

Tem vezes que revela velhos naufrágios

De outras vezes esconde-os na eternidade

Longe dos olhares do universo em redor

Ou guarda memórias de tantos acalantos

Cúmplice de outras vidas que ficaram atrás

Tem vezes  em que se enche de  cidadelas

Luzes cruzando-se em rumos desconhecidos

Ou o breu de tantas  noites desesperadas


Lobito, Abril de 2021 

A VERDADEIRA PANDEMIA

30 nov 2020

Conquistas globais da malária estão ameaçadas por lacunas de acesso, COVID-19 e falta de financiamento 

30 de novembro de 2020 - A Organização Mundial da Saúde (OMS) está chamando os países e parceiros globais de saúde a intensificarem a luta contra a malária, uma doença evitável e tratável que continua causando centenas de milhares de mortes a cada ano. Um melhor direcionamento das intervenções, novas ferramentas e maior financiamento são necessários para mudar a trajetória global da doença e atingir as metas acordadas internacionalmente. 

De acordo com o último relatório mundial da OMS sobre a malária, o progresso contra a doença continua estagnado, particularmente em países com alto índice de incidência na África. Lacunas no acesso a ferramentas que salvam vidas estão minando os esforços globais para conter a doença e se espera que a pandemia de COVID-19 atrase essa luta ainda mais. 

Em 2000, os líderes africanos assinaram a Declaração de Abuja, prometendo reduzir as mortes por malária no continente em 50% ao longo de um período de 10 anos. Um compromisso político robusto, juntamente com inovações em novas ferramentas e um aumento acentuado no financiamento, catalisou um período sem precedentes de sucesso no controle global da malária. De acordo com o relatório, 1,5 biliões de casos de malária e 7,6 milhões de mortes foram evitados desde o ano 2000.

Um platô em progresso

Em 2019, a contagem global de casos de malária foi de 229 milhões, uma estimativa anual que permaneceu praticamente inalterada nos últimos 4 anos. A doença ceifou cerca de 409 mil vidas em 2019, em comparação com 411 mil em 2018. 

Tal como nos anos anteriores, a Região Africana suportou mais de 90% da carga geral da doença. Desde 2000, a região reduziu seu número de mortes por malária em 44% - de 680 mil para 384.000 anualmente. No entanto, o progresso diminuiu nos últimos anos, particularmente em países com uma alta carga da doença. 

Um déficit no financiamento, tanto em nível internacional quanto doméstico, representa uma ameaça significativa para as conquistas futuras. Em 2019, o financiamento total para enfrentamento da malária atingiu US$ 3 bilhões, contra uma meta global de US$ 5,6 bilhões. A escassez de fundos levou a lacunas críticas no acesso a ferramentas comprovadas de controle da malária.

COVID-19, um desafio a mais

Em 2020, a COVID-19 surgiu como um desafio adicional para a prestação de serviços essenciais de saúde em todo o mundo. De acordo com o relatório, a maioria das campanhas de prevenção da malária conseguiu avançar este ano sem grandes atrasos. Garantir o acesso à prevenção da malária - como mosquiteiros tratados com inseticida e medicamentos preventivos para crianças – apoia a estratégia de resposta à COVID-19 ao reduzir o número de infecções por malária e, por sua vez, aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde. A OMS trabalhou rapidamente para fornecer aos países orientação para adaptar suas respostas e garantir a prestação segura de serviços de malária durante a pandemia.

No entanto, a OMS está preocupada com o fato de que mesmo interrupções moderadas no acesso ao tratamento podem levar a uma perda considerável de vidas. O relatório conclui, por exemplo, que uma interrupção de 10% no acesso ao tratamento antimalárico eficaz na África Subsaariana pode levar a 19 mil mortes a mais. Interrupções de 25% e 50% na região podem resultar em 46 mil e 100 mil mortes adicionais, respectivamente. 

“Embora a África tenha mostrado ao mundo o que pode ser alcançado se nos unirmos para erradicar a malária como uma ameaça à saúde pública, o progresso estagnou”, disse Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para a África. “A COVID-19 ameaça prejudicar ainda mais nossos esforços para superar a malária, particularmente tratando pessoas com a doença. Apesar do impacto devastador que a COVID-19 teve nas economias africanas, os parceiros internacionais e os países precisam fazer mais para garantir que os recursos estejam disponíveis para expandir os programas de malária que estão fazendo diferença na vida das pessoas.” 

Resposta da OMS

Uma estratégia chave para retomar o progresso é a resposta “Alta carga para alto impacto” (HBHI, sigla em inglês), catalisada em 2018 pela OMS e pela Parceria RBM para acabar com a malária. A resposta é liderada por 11 países - incluindo 10 na África Subsaariana - que respondem por aproximadamente 70% da carga mundial da malária.

Nos últimos 2 anos, os países que fazem parte da resposta HBHI têm se afastado de uma abordagem “padrão” para o controle da malária - optando, em vez disso, por respostas personalizadas com base em dados e inteligências locais. Uma análise recente da Nigéria, por exemplo, descobriu que, por meio de uma combinação otimizada de intervenções, o país poderia evitar dezenas de milhões de casos a mais e milhares de mortes adicionais até o ano de 2023, em comparação com uma abordagem usual.

Embora seja muito cedo para medir o impacto da abordagem HBHI, o relatório conclui que as mortes nos 11 países foram reduzidas de 263 mil para 226 mil entre 2018 e 2019. A Índia continuou a ter ganhos impressionantes, com reduções nos casos e mortes de 18% e 20%, respectivamente, nos últimos 2 anos. Houve, no entanto, um ligeiro aumento no número total de casos entre os países da resposta HBHI – uma estimativa de 155 milhões em 2018 para 156 milhões em 2019.

Cumprindo as metas globais de malária

O relatório deste ano destaca os principais marcos e eventos que ajudaram a moldar a resposta global à doença nas últimas décadas. Começando na década de 1990, líderes de países afetados pela malária, cientistas e outros parceiros estabeleceram as bases para uma resposta renovada à malária que contribuiu para um dos maiores retornos sobre o investimento na saúde global.

De acordo com o relatório, 21 países eliminaram a malária nas últimas 2 décadas; destes, 10 países foram oficialmente certificados como livres da malária pela OMS. Diante da ameaça contínua de resistência aos medicamentos antimaláricos, os seis países da sub-região do Grande Mekong continuam a obter grandes ganhos em direção ao seu objetivo de eliminação da malária até 2030.

Mas muitos países com alto índice de malária estão perdendo terreno. De acordo com as projeções globais da OMS, a meta de 2020 para reduções na incidência de casos de malária será perdida em 37% e a meta de redução de mortalidade em 22%.

Nota aos editores

O trabalho da OMS em relação a malária é orientado pela Estratégia técnica global para a malária 2016-2030 (GTS), aprovada pela Assembleia Mundial da Saúde em maio de 2015. A estratégia inclui quatro metas globais para 2030, com marcos ao longo do caminho para acompanhar o progresso. As metas para 2030 são: 

1) reduzir a incidência de casos de malária em pelo menos 90%; 
2) reduzir as taxas de mortalidade por malária em pelo menos 90%; 
3) eliminação da malária em pelo menos 35 países; e
4) prevenir o ressurgimento da malária em todos os países livres da doença.

Os marcos de curto prazo da estratégia, para 2020, incluem reduções globais na incidência de casos de malária e taxas de mortalidade de pelo menos 40% e a eliminação da malária em pelo menos 10 países. De acordo com o relatório, os marcos de 2020 para a incidência de casos de malária e taxas de mortalidade serão perdidos:

  • Incidência de casos: a OMS projeta que, em 2020, havia uma estimativa de 56 casos de malária para cada 1.000 pessoas em risco de contrair a doença, contra uma meta da estratégia de 35 casos. O marco do GTS será perdido em cerca de 37%.
  • Taxa de mortalidade: a estimativa de mortes por malária projetadas globalmente por 100 mil habitantes em risco foi de 9,8 em 2020 contra uma meta de 7,2 mortes. O marco será perdido em cerca de 22%.

Região Africana da OMS - Desde 2014, a taxa de progresso em casos e mortes na região diminuiu, o que é atribuído principalmente à estagnação do progresso em vários países com transmissão moderada ou alta. Em 2019, seis países africanos foram responsáveis por 50% de todos os casos de malária: Nigéria (23%), República Democrática do Congo (11%), República Unida da Tanzânia (5%), Níger (4%), Moçambique (4%) e Burkina Faso (4%). Levando em consideração as tendências recentes, a Região Africana perderá os marcos da estratégias 2020 para incidência de casos e mortalidade em 37% e 25%, respetivamente.

“Alta carga para alto impacto” (HBHI) - Lançado em novembro de 2018, a HBHI se baseia no princípio de que ninguém deve morrer devido a uma doença que pode ser prevenida e tratada. É liderado por 11 países que, juntos, foram responsáveis por aproximadamente 70% da carga mundial de malária em 2017: Burkina Faso, Camarões, República Democrática do Congo, Gana, Índia, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Uganda e República Unida da Tanzânia. Nos últimos dois anos, todos os 11 países da HBHI implementaram atividades em quatro elementos de resposta: 1) vontade política para reduzir a taxa da malária; 2) informações estratégicas para impulsionar o impacto; 3) melhor orientação, políticas e estratégias; e 4) uma resposta nacional coordenada à malária.

Eliminação da malária - Entre 2000 e 2019, 10 países receberam a certificação oficial da OMS de eliminação da malária: Emirados Árabes Unidos (2007), Marrocos (2010), Turcomenistão (2010), Armênia (2011), Quirguistão (2016), Sri Lanka (2016), Uzbequistão (2018), Paraguai (2018), Argentina (2019) e Argélia (2019). Em 2019, a China notificou zero casos indígenas de malária pelo terceiro ano consecutivo; o país solicitou recentemente a certificação oficial da OMS para eliminação da malária. Em 2020, El Salvador se tornou o primeiro país da América Central a se inscrever para a certificação de livre de malária da OMS

Nos seis países da sub-região do Grande Mekong - Camboja, China (Província de Yunnan), República Democrática Popular do Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã - o número relatado de casos de malária caiu 90% de 2000 a 2019, enquanto os casos P. falciparum diminuíram 97% no mesmo período. Esta diminuição acelerada da malária por P. falciparum é notável em vista da ameaça representada pela resistência aos medicamentos antimaláricos na sub-região.

Um apelo à inovação - a eliminação da malária em todos os países, especialmente aqueles com uma elevada carga de doenças - provavelmente exigirá ferramentas que não estão disponíveis hoje. Em setembro de 2019, o diretor-geral da OMS emitiu um “desafio da malária”, chamando a comunidade global de saúde a aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas ferramentas e abordagens de combate à malária. Esta mensagem foi ainda mais reforçada no 
 

segunda-feira, abril 26, 2021

sexta-feira, abril 23, 2021

DIA DA TERRA

Ontem, foi o dia da Terra. O mundo desdobrou-se em boas intenções, e como sempre veio à tona, as opiniões de dois movimentos fundamentais. Os ambientalistas fervorosos, dogmáticos, e aqueles que defendem que a mão humana não tem nada a ver com isto, e que isto são ciclos, que se aproxima naturalmente um período glaciar, blá, blá, blá.

Mas, há outra maneira de encarar todo este problema. Vamos imaginar por absurdo, que de facto estes acontecimentos, alterações climáticas, etc, são mesmo um fenómeno natural e ciclico.

Ainda assim a nossa maneira de viver é correcta, tem sustentabilidade? As desigualdades sociais que acarreta são normais?

Delapidar as espécies de forma intensiva, abate indiscriminado das florestas, pesca de arrasto de fundo, tratamento indevido dos lixos hospitalares, uso de plásticos, matadouros gigantes poluindo todos os lençóis freáticos, uso intensivo do "streaming" sem cuidar das fontes energéticas, utilização até à exaustão de energias fosseis, aquacultura intensiva, agricultura cada vez mais baseada em pesticidas e adubos (vejam o documentário "kiss the ground"), ausência de acesso universal a tudo o que nos torna melhores, viver em grandes cidades com 10-20 milhões de habitantes, o que as torna a médio prazo insustentáveis, uso indiscriminado dos recursos hidricos, isto é maneira de viver?

Até seria, se não houvesse alternativas, mesmo sabendo que seria o nosso fim como espécie. Mas a verdade é que há alternativas, que óbviamente vão corroer até ao mais fundo a nossa maneira de viver. Até os sistemas políticos terão de mudar, e todo o tecido económico que está nas mãos de apenas alguns, vai de algum modo mudar, e não vai ser pacífico. E aqui é que está o verdadeiro problema. Os ricos deste mundo não vão ter a bondade de mudar. Vai ser preciso que todos nós estejamos envolvidos nesta luta, porque não há outro caminho. É aqui que as economias mais poderosas, vão ter que mostrar o que valem, como é que vão enfrentar este problema, como é que vamos todos viver mais harmoniosamente, e fundamentalmente como é que a riqueza se vai distribuir de forma mais compatível com o desenvolvimento sustentado desta nossa Terra.

quarta-feira, abril 21, 2021

PANDEMIA E AMBIENTE

Provávelmente a frase do momento é: quando vamos voltar à vida normal que tinhamos?

Espero que isto seja um erro passageiro. Se o confinamento teve alguma coisa de bom, foi a possibilidade de pararmos, repensarmos os nossos estilo de vida e eventualmente sairmos melhores, mais profundos e decididos. O covid não vai desaparecer, tal como qualquer outro virus, apenas temos de aprender a conviver com ele. 

Foi uma queixa constante em todos os países, a maneira como os mais velhos estavam a ser tratados nos lares. Mas sabemos, que antes do confinamento e na esmagadora maioria dos casos, os mais velhos eram jogados pelas famílias nesses mesmos lares. Não é por acaso, que os internamentos de milhares de mais velhos acontece exactamente na quadra natalícia e Ano novo. E se perguntarem às assistentes sociais, verão a dificuldade que é, para contactar as famílias na altura da alta. E, neste momento em Portugal há 42.000 mais velhos com problemas exactamente porque lhes tem faltado o apoio familiar. Pode ser que este tempo de introspecção (???), nos faça melhores, torne melhores as famílias. 

Sobre alterações climáticas, sem dúvida que o ar ficou mais limpo. Menos combustíveis fosseis usados, menos viagens, etc. Mas essa melhoria é momentanea. O planeta demora tempo a responder, e eu não acredito que toda a gente, alguma gente, saia com preocupações ecológicas. Na verdade, o problema é colossal e com muitas vertentes ( https://pt.venngage.com/blog/coronavirus-impacto-ambiental/ ). Se há absoluta necessidade de os governos se começarem a movimentar, há ainda mais necessidade de cada um, alterar o seu precioso e egoista estilo de vida. E na verdade, se cada um fizer a sua parte, os governos vão ser obrigados a fazer a deles. Tentem ler o mais possível, envolverem-se em ONG's sérias e levar um estilo de vida compatível. E tentem cativar o vosso vizinho.

Muita coisa há a fazer para terminar com os combustíveis fosseis.A indústria automóvel deu o primeiro passo, mas só isso é profundamente insuficiente. Energias renováveis, desaparecimento dos plásticos, combate a aquacultura intensiva e ao arrasto em alto mar, eliminar lareiras a carvão de todos os prédios, uso sensato dos meios hidricos, tornar-se tendencialmente vegan. Eliminar a produção intensiva de gados bem como o seu abate sem regras. Eliminar a produção desmesurada de soja para alimentar esse mesmo gado (há países que preferem comprar gado e outros animais abatidos, do que produzi-los localmente. Eles lá saberão porquê ), terminar com queimadas e abate indiscriminado das florestas deste nosso planeta ( precisamente para plantar soja e ter espaço para os gados). Considerar sériamente o trabalho remoto, a embalagem de materiais, tratamento adequado do lixo hospitalar, impor regras duras sobre o "streaming". Um sem número de iniciativas. Mas, cada uma considerada e pesada, porque muitas  medidas aparentemente bondosas, revelaram-se extremamente hostis em termos ambientais.

E tudo isto tem de ser global. Qual é o benefício de ter uma cidade ou um país, ecológicamente limpo, se ao lado nada está a ser feito.

Na verdade, não podemos olhar para este problema de outra maneira. Tudo o que fizemos agora, vai ter um delay no planeta de pelo menos 30 anos. Portanto se começarmos já, só em 2050 teremos respostas. Talvez por isso, os acordos estabelecidos têm como meta 2050. Mas a evidência sugere que a maior parte dos países nessa altura, ainda nem terá cumprido as quotas a que se propôs.

Pode ser que os nossos filhos e netos sobrevivam, e façam melhor do que nós. A herança que lhes vamos deixar, irá marcar-nos como uma geração de combate, ou como uma geração de lixo.

sexta-feira, abril 16, 2021

ESQUERDA

É cansativo. A esquerda portuguesa não aprende, por mais que cometa os mesmos erros ao longo dos tempos. Nem sequer se dá ao trabalho de entender a história, como nem se dá ao trabalho de entender, porque é que Hitler chegou ao poder, ou porque é que mais recentemente Bolsonaro lá chegou, ou porque é que Marie Le Pen vai lá chegar, ou porque é que a direita e extrema direita têm ganho relevo nas últimas decadas.

O mecanismo é sempre o mesmo. A direita invocando os direitos, liberdades e garantias que a democracia proporciona, investe na desinformação, nas "fake news", aproveita episódios do quotidiano, para ganhar posição junto das massas amorfas que pululam nas redes sociais.

Basta olhar para o caso Socrates, que de tão mal gerido ao longo dos tempos, está a provocar a subida da direita, que usa argumentos primários, fácilmente perceptíveis por esse mundo de gente que está a jeito.

O pior de tudo, nem sequer é isso. De vez em quando, vá-se lá saber porquê, surge gente conotada com a esquerda a dizer sistemáticamente asneiras. É o caso da ex-deputada, ex- deputada ao Parlamento Europeu, ex- candidata a Belém ( de agora em diante será referida como snra. ex), que periódicamente resolve chamar a atenção sobre si. Mas na verdade a sua vida política, que me lembre, é irrelevante e nem sequer aquele "show off" repentino e anárquico sobre a questão de Timor, veio trazer alguma coisa de substancial. Não esquecer, o seu papel de observadora das eleições na Etiópia, e às declarações que produziu antes mesmo dos resultados eleitorais, que provocaram um incidente gravíssimo que desestabilizou gravemente a situação naquele país.

De facto, a esquerda portuguesa não vai aprender nunca, toda a esquerda portuguesa. O meu palpite para as próximas eleições e começaremos a ver isso nas autárquicas, é que o CDS vai ser pulverizado, os partidos de esquerda serão muito penalizados, o PSD fará alianças com o diabo se for preciso, mas os partidos de extrema direita sairão muito reforçados.

Oxalá eu esteja enganado.



segunda-feira, abril 12, 2021

OPERAÇÃO MARQUÊS

Como qualquer cidadão, fui surpreendido pela leitura do processo, altamente mediatizada pela primeira vez. 

Não costumo ser imediatista, pelo que fui amadurecendo o que ouvi e agora, devo dizer que de todo não concordo com a maior parte das conclusões que entretanto foram veiculadas em tudo o que são redes sociais, por anónimos e por figuras bem conhecidas de todos nós. Este processo foi mediatizado ao longo dos anos, a opinião pública foi sendo formatada pelo dito "jornalismo de investigação", e no final os arguidos foram sumáriamente condenados, fora do sistema de justiça. Assim, só restaria à justiça alinhar neste pesadelo, correndo o risco de se não o fizesse, acontecesse o que veio a acontecer.

Isto é profundamente errado, até porque o tal "jornalismo de investigação", é pobre, muito pobre em Portugal e os jornalistas apenas querem vender mais e mais. Um jornalismo de investigação sério não funciona assim, e todos nos lembramos de exemplos por esse mundo fora, de excelentes investigações, que conduziram a processos e condenações sem margem para dúvidas.

Por outro lado, o sistema de justiça funciona por redundancias, e assim vai dando passos que serão sempre confirmados ou infirmados por outras instâncias. Não se pode pedir mais. Em teoria, qualquer decisão vai sendo ratificada nos diversos escalões, até chegar ao fim. E qualquer juíz poderá ver as suas decisões tornarem-se inválidas se o nível superior de justiça assim o entender.

O que é que está mal nisto tudo?

Em primeiro lugar, a impunidade da classe jornalistica, ainda que reconhecidamente ela seja desonesta e praticada por alguns que não o deveriam fazer.

Em segundo lugar, a morosidade da justiça, sem qualquer justificação e que leva à prescrição de actos altamente condenáveis, quando seria mais fácil, todos o sabemos, não entrar em megaprocessos que só favorecem os arguidos.

Em terceiro lugar, nunca, mas nunca, um arguido deve apresentar-se a julgamento já condenado pela opinião pública. Poderia ser qualquer um de nós.

Finalmente o que realmente se pede, é que deixem a justiça trabalhar. Se a mesma é independente do poder executivo, não há qualquer razão para que seja dependente da opinião pública ou de alguns pseudo-jornalistas. A direita está aí, tentando tirar proveito de mais este "jornalismo de investigação". A sua "indignação" já é visível, e não vão parar de o mostrar.

sexta-feira, abril 09, 2021

AQUI

 Quando ninguém acredita em ti

E ficas muda de espanto

Eu acredito

Estou aqui

 

Quando resta apenas sobreviver

E aceitas a coragem necessária

Ninguém crê

Eu  estou aqui

 

Não sei se me queres

Mas se me quiseres, se me quiseres

Ainda que mais ninguém acredite

Eu  estou aqui

 

Quando caminhares no teu silêncio

E nem o vento consegues ouvir

Acredita, tens de acreditar

Eu  estou aqui

 

Se não sabes qual destino será

E não sabes mais por onde andar

Apetece-te fugir e não viver

Eu  estou aqui

 

Caminhas como um rio sem margens

Entre encantos e realidades

Quando às vezes basta o que há

Eu  estou aqui

segunda-feira, abril 05, 2021

SEASPIRACY

Para quem se interessa realmente por problemas de ecologia e defesa ambiental, recomendo vivamente este filme que se pode encontrar na Netflix.

Nunca ninguém tinha ido tão longe. E o que se observa, deixa-nos com a certeza de que a guerra vai ser muito maior do que todos pensamos.

CHICO BUARQUE

 Sou um leitor compulsivo. Foi assim toda a minha vida.

Talvez por isso, tenho lido de tudo, livros de política, técnicos, poesia, banda desenhada, romances, sei lá.

Também por isso, faz já muito tempo que nada do que eu leio, realmente me enche a alma. Realmente percebi que Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez, Sepulveda, Eça, jamais me voltariam a impressionar com coisas novas.

E, de repente, explode-me nas mãos um livro daqueles. "Essa gente".

É um dos tais. Acabado de ler, a gente quer recomeçar, não vá ter escapado alguma coisa.

O quotidiano devassado, como pano de fundo perceptível apenas, o panorama geopolítico de um país permanentemente adiado. Romance, amargura, solidão, espremidas até doer de verdade.

Obrigado Chico.

quinta-feira, abril 01, 2021

DIREITOS HUMANOS

 Para aqueles, para quem a vida é tão pobre que se limitam a disseminar e aplaudir as "fake news" nas redes sociais e a dizer mal de quem lhes convem dizer, publiquem lá as imagens que vêm dos USA, dos campos de reclusão dos meninos mexicanos.

E finjam que se emocionam que só vos fica bem.

MALÁRIA

 Artemísia: A nova esperança para a erradicação da malária?

Um arbusto vindo da China está a dar que falar na comunidade médica, dividida quanto à forma de combater a malária. A artemísia poderá ter um papel-chave como um medicamento natural e mais acessível contra a doença.

Em 2015, cerca de 429 mil pessoas morreram com malária num total de 212 milhões de casos registados em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora todos estejam de acordo quanto à necessidade de erradicar a malária, a comunidade médica está dividida sobre como é que isto deve ser feito.

Um arbusto vindo da China está a agitar as águas. Já utilizada na base de tratamentos contra a malária, a planta Artemisia Annua também se revela eficaz quando as suas folhas são usadas para fazer chá.

Uma rede internacional de cientistas e médicos ligados à associação francesa "La Maison de l'Artemisia" ("A Casa da Artemísia") tenta há alguns anos divulgar a planta como um remédio natural, mais acessível do que produtos farmacêuticos, no combate à malária.

 Um chá anti-malária

Cada saco de chá produzido pela organização não-governamental francesa contém 1,7 gramas de Artemisia Annua, suficientes para fazer uma chávena. 

"Quando tomas três chávenas por dia para curar a malária, estás a tomar 5,1 gramas, pouco mais de 5, o que é bom. É melhor tomar a mais do que a menos", diz Pierre Van Damme, um engenheiro agrícola belga que trabalha para "A Casa da Artemísia" em Dakar, no Senegal.

As vantagens são muitas, diz: "Com a artemísia, temos a certeza de que, dois dias depois, a febre baixou. Quatro dias depois, já não há mais sinais de malária. Sete dias depois, os parasitas que se alojaram no fígado desapareceram por completo." Apesar de os testes rápidos de diagnóstico de malária estarem disponíveis há vários anos, o tratamento desadequado ainda é comum em África.

Pessoas que não têm malária tomam medicamentos antimaláricos sem necessidade - por exemplo, quando têm sintomas semelhantes aos da doença, como a febre. Há vários anos que o tratamento da malária em África se baseia em medicamentos como a cloroquina e a sulfadoxina, combinadas com a pirimetamina e o quinino. Mas, devido ao uso em excesso, desenvolveu-se uma resistência a alguns destes medicamentos, e foi preciso encontrar novos tratamentos. Atualmente, recomenda-se a utilização de terapias combinadas com base em artemisinina no combate à malária - tratamentos que não são baratos.

A artemisinina vem da artemísia, e um número crescente de cientistas, profissionais de saúde e investigadores como Van Damme acreditam que usar a folha inteira da artemísia - e não apenas um extracto - poderia ter um papel-chave na erradicação da malária. "Recomendamos o uso da planta inteira, porque está provado que a planta como um todo, com as suas 200 substâncias ativas que trabalham em sinergia, combate todos os parasitas encontrados no sangue, entre eles a malária", explica Pierre Van Damme.

 Dúvidas persistem

Há vários anos que as empresas farmacêuticas usam a artemisinina para produzir medicação antimalárica. Em 2015, um investigador chinês venceu o prémio Nobel da medicina pela redescoberta dos benefícios da planta, que há anos é usada na medicina tradicional chinesa. No entanto, a OMS alerta para a utilização exclusiva da planta apenas como um medicamento natural.

 

Desde 2000, a taxa de mortalidade por malária diminuiu 60% em todo o mundo, segundo a OMS. No Senegal, há menos de 300 mil pacientes de malária atualmente, comparando com 700 mil, há dez anos. Alioune Gueye, do Programa Nacional de Controlo da Malária, diz que isto se deve à política nacional de distribuição gratuita de medicamentos e redes mosquiteiras.

"Se hoje em dia o Senegal está à beira da pré-eliminação da doença, é porque as ferramentas que usamos há 15 ou 20 anos são claramente eficazes", afirma. Quanto ao uso da artemísia no tratamento da malária, o médico ainda tem algumas dúvidas: "É uma planta que tem virtudes, mas trata-se de saúde pública e, no Senegal, temos uma população de 14 milhões de pessoas. Os riscos são significativos, por isso temos de garantir a segurança destes produtos antes de os distribuirmos à escala nacional".

 Artemísia já cresce em África

Artemisia Annua não cresce naturalmente em África, mas a sua "prima", a Artemisia Afra, sim. No entanto, a variante africana tem outras substâncias ativas. "A Casa da Artemísia", que já está presente em 31 países africanos, usa as folhas inteiras das duas plantas nos seus sacos de chá, e planta as duas variantes em Tivaouane, a norte de Dakar. 

Karim Sankaré é agrónomo e, juntamente com dois colegas, toma conta do terreno de quatro hectares, onde são plantadas cerca de 8 mil plantas, no total: "As propriedades medicinais estão principalmente nas folhas. As sementes são colhidas para termos plantas na próxima época", explica. As plantas crescem rapidamente, diz Karim. Quando atingem 1,20 metros de altura, são colhidas. A folha de artemísia seca já curou pessoas com malária, segundo um estudo levado a cabo no Congo e nos Estados Unidos, em 2017. Após beberem o chá, 18 pessoas que sofriam de malária grave foram curadas, depois de os medicamentos comuns terem falhado. Desde então, o gabinete da OMS em Brazzaville decidiu estudar as possibilidades desta planta chinesa e da variante africana que cresce no continente.

 Uma planta em vez de agulhas

A irmã Marie Emilie Diouf, parteira de formação, dirige o centro católico de saúde em Popenguine, uma aldeia nos arredores de Dakar. Começou a prescrever artemísia para tratar a malária há três anos, depois de uma formação sobre plantas medicinais. As plantas revelaram-se mais eficazes do que as terapias combinadas baseadas em artemisinina. "Apercebi-me de que, com todos os pacientes que tratei, não usei quinino ou terapias combinadas. Usei artemísia e não precisei de fazer nenhuma infusão", conta. O quinino é geralmente utilizado quando há suspeitas de resistência à cloroquina, um medicamento usado para tratar ou prevenir a malária, e é administrado por infusão intra-venosa, durante quatro horas. Mas alguns pacientes não queriam ser picados com agulhas, e, noutras ocasiões, o centro de saúde estava sobrelotado. Os pacientes iam ter com a irmã Emilie para fazer perguntas sobre a planta e a irmã acabou por perceber que estava a usar apenas artemísia para os tratar, apesar de ter medicamentos disponíveis: "Acabei por devolver as terapias combinadas que, suponho, são derivadas da artemísia. Para mim, é melhor usar a planta inteira", afirma.

 Um impulso para a erradicação?

Ciente de que as pessoas preferem muitas vezes um tratamento natural ou tradicional, o médico Alioune Gueye diz que o Programa Nacional de Controlo da Malária dá algumas instruções aos curandeiros tradicionais sobre a melhor forma de tratamento. "Tentamos ter uma colaboração franca com os curandeiros, para que, se estiverem assoberbados ou não tiverem as ferramentas necessárias, reencaminhem os pacientes para as unidades de saúde apropriadas", explica. O Senegal está a trabalhar para erradicar a malária até 2030. Muito graças aos significativos apoios do Fundo Global - uma parceria entre governos, sociedade civil e o setor privado. Em janeiro, o Senegal recebeu 32 milhões para o combate à malária nos próximos dois anos. Ainda que os medicamentos estejam disponíveis de forma gratuita no país, aceder aos tratamentos pode levar algum tempo nas localidades mais remotas, ou se os centros de saúde estiverem sobrelotados.A vantagem da artemísia é que pode ser plantada em qualquer lado e as suas folhas secas podem ser usadas como um medicamento natural eficaz.

Com mais investigações a decorrer, os resultados positivos revelados até agora sugerem que a milenar erva chinesa pode impulsionar a erradicação da malária no Senegal. Noutros país afetados pela doença, como o Congo, o Benim e o Burkina Faso, algumas comunidades já estão a optar pelos medicamentos naturais, como a artemísia.