sexta-feira, maio 29, 2009

Da influência de uma letra na abulia de um povo

Trata-se naturalmente da letra F, que nos tem anestesiado ao longo de décadas. É elemento fulcral da trilogia fado, futebol e Fátima, pilares estruturantes do actual estado de espírito português. Acho todavia que se deve acrescentar duas outras palavras: fraqueza e força.
O fado tradicional é poesia, mas enroupada naquela vil tristeza que o poeta cantou, no fatalismo e resignação atávicos, que nos impedem de desenvolver as nossas inegáveis qualidades e potencialidades, as quais em geral nos granjeiam o respeito dos estrangeiros, quando as exercemos lá fora. O fado de Coimbra é excepção (não estou a ser sectária, visto ser natural de Lisboa), que canta amores e saudade (a propósito, o mito de que a palavra saudade só existe em português é desmentido, por exemplo, pela palavra alemã Sehnsucht, que até é mais expressiva). O carácter pungente do fado revela um fatalismo inibidor, uma disposição anímica de conformismo, uma atitude submissa, de aceitação passiva das ignomínias que nos caem em cima. Nem para fazer valer os direitos mais básicos (educação, justiça, saúde, emprego, maior apoio à infância e aos idosos, etc.), a que alguns chamam privilégios, nos fazem sair deste estado comatoso.
Quanto a Fátima, para além do que já se disse sobre a IC, repugna-me o suborno da divindade implícito no pagamento de promessas, aplacando-a através de sofrimento e de oferendas. Não pretendo com isto desdenhar da fé dos crentes, que nos deve merecer respeito, pelo lenitivo e consolo que representa. Voltando à IC, aí estão eles de novo a pedir desculpa pelos crimes nefandos perpetrados sobre 14.000 crianças em instituições religiosas na Irlanda, mas (coisa inqualificável!) exigindo o anonimato dos criminosos. Então condena-se quem pratica um aborto, ainda que por razões de saúde ou humanitárias, mas deixa-se livre do merecido castigo quem teria mais obrigação de uma conduta irrepreensível?
O futebol poderia ser um desporto belo, compreendendo-se alguns excessos, por entusiasmo, e até alguma trapaça (ai de mim, que digo eu?) para dar “cor” ao jogo. Pelo contrário, inúmeros factores fazem do futebol um antro sulfuroso, onde a beleza de um jogo bem jogado assume uma importância secundária. Custa-me engolir a alienação das massas ululantes, a boçalidade e a marginalidade de algumas claques, a corrupção que alegadamente grassa entre alguns dirigentes e a arbitragem, a impunidade dos negociatadores dos clubes, o unfair play das “estrelas” dos relvados. A mística do futebol tresanda, quanto a mim, a qualquer coisa de fétido.
O que se passa no futebol parece espelhar o que se passa no país em geral. E nós em tranquila letargia. Não vale a pena recordar os inúmeros casos escandalosos a decorrerem neste momento no país e que nos envergonham. O curioso é que é tudo “legal”, toda a gente está de consciência tranquila (será que têm alguma consciência?) Apetece emigrar para lá do sol posto, não ler mais jornais, fechar os olhos e os ouvidos a toda a informação veiculada pelos media, abdicando do direito à indignação. Que fraqueza é esta que nos tolhe, a nós que já fomos grandes, dividimos o mundo em dois em Tordesilhas, deixámos vestígios em muitas e distantes paragens, imprimimos uma marca cultural em povos espalhados pelo mundo, a incomensurável coragem revelada aquando dos descobrimentos não foi, seguramente, fogacho ocasional. Ainda recentemente, a tenacidade e determinação dos nossos imigrantes são indicadores de que a alma lusa não é débil, tem muita força. Somos um povo excepcional, que até fez uma revolução sem sangue. Então porquê o estado letárgico em que nos afundamos? Quando lançaremos mão dessa força de vontade de outrora, agora que temos três belas oportunidades?
Tolhe pesado grilhão: escuridão.
Garra desesperada, determinada, rasga trevas: clarão.
Trabalho. Motivação.
Assimetrias: mais não!
Maria de Lurdes

sexta-feira, maio 22, 2009

TERRAMOTO

Hoje, cerca das 21 horas, houve um terramoto de grande magnitude na escala de Richter, com epicentro na TVI.
Já em intervenções anteriores, tenho expressado a minha náusea, devido aos noticiários de sexta-feira, comandados pela nossa inefável MMG e, com a ajuda daquele senhor que não se percebe bem o que diz.
Hoje o Bastonário da Ordem dos Advogados, cilindrou a dita senhora.
Politicamente incorrecto?
Claro, totalmente.
Mas que soube bem, a mim e a mais uns milhares de portugueses, soube.
Vai haver consequências?
Espero fervorosamente que sim. Os sistemas reguladores da Comunicação Social, não vão poder continuar a fingir que nada se passa.
Viva o politicamente incorrecto.
Hasta la victoria.

GED

quarta-feira, maio 20, 2009

NOITES

Escorrem-me noites
Por entre os dedos das minhas mãos
Consigo reter algumas estrelas solitárias
Luz para os meus passos
Um de cada vez, por entre silêncios
Marcando areias ainda quentes
Cadência pausada, feliz
No rumo do dia que amanhece.

GED

segunda-feira, maio 18, 2009

PAÍS CINZENTO

O nosso estimado "grilo falante", MRS, do alto da sua altíssima posição, proclamou a todos os mortais presentes e mesmo a alguns defuntos ausentes, que achava que o Presidente da Republica, não devia fazer ironia, ainda mais com casos sérios. Não interessa para o caso, o caso em questão. Pode ser qualquer coisa.
Mas viajar permanentemente no "políticamente correcto" cansa. Deve cansar o próprio ou os próprios e cansa seguramente, quem tem que ouvir isto diáriamente, vindo de "grilitos sussurrantes", em todos os canais de televisão.
Dir-me-ão, que feche o aparelho e pronto. Nada disso. Se o fizer, entram-me em casa de qualquer outro modo. São piores do que sarna.

Os preservativos e a escola. Ora aí está uma novidade, pouco agradável para muçulmanos e cristãos. Já os judeus estão de acordo. Ainda cheguei a pensar que iriamos resolver o problema da faixa de Gaza e arredores, mas nem nisto estão de acordo.
Quanto à igreja mantem-se igual a si prória. Intemporalmente imóvel.
Cristãos e muçulmanos estão juntos neste caso. Sexo público só depois do casamento. As "porcarias e outras devassidões", são permitidas, mas só no aconchego do anonimato.
Chegou-se ao ponto de haver quem negue o holocausto. À igreja já pouco lhe falta para vir negar a existência de Sida e outros males sexualmente transmissíveis. A gravidez indesejada também está resolvida. Sei de fonte segura que a igreja, vai abrir mão de toda a sua vasta riqueza, para apoiar todas as jovens grávidas, em todo o mundo, que engravidaram pelos mais diversos motivos, menos pelo certo.

GED

sexta-feira, maio 08, 2009

CIRCO

Ontem, foi noticiado, que os nossos deputados se tinham debruçado sobre o tema, de sim ou não aos animais no circo.
Não me ri.
Fiquei apenas roxo de indignação e de tristeza.
Indignação, porque vejo o meu dinheiro a esvair-se em coisas vãs.
Tristeza por saber aquilo que cá dentro já sabia.
Estamos a ser governados por gente totalmente incapaz. Quem chega a este ponto e, estou a falar, não de pessoas singulares, mas de partidos, mostra à exaustão que não tem causas, nem balizas, nem objectivos, nem nada.
Tanta coisa por resolver, de importância para todos nós e, os gringos vão ao circo.
Eu dou uma sugestão, já que é também com o meu dinheiro que são régiamente pagos: acabem lá com os animais no circo e já agora no zoológico e, com os canários nas gaiolas. Acabem com isso tudo e depois com as jaulas e os circos vazios, metam lá essa gente para nosso gozo pessoal.

GED

JANELAS PARA O MUNDO




domingo, maio 03, 2009

ABRIL E MAIO

Henrique, finalmente adquiri o equipamento informático que me permite reentrar neste sereno espaço e como atravessamos estes dois meses especiais, aqui vai:


ABRIL E MAIO

Respirei Abril
Recriando o que não ri
E pressenti o perfil.

Chorarei por Maio,
Sou chão, no doce perdão
Situo-me e não saio.

A chuva continua
E solta a pura (qual seta)
Esperança da Lua.

As comemorações
E as flores são dois amores
E têm recordações.

Pedaços dos meses
Férteis, curtos e agradáveis
Ao esquecê-los mil vezes.

Um abraço.


NOTA: meu querido amigo. Pensei que te tinhas ido embora, sem mais aquelas. Finalmente regressaste a esta tertúlia, que por sinal anda animada. Vai passando por aqui. Tenho ido ao teu blog...mas népias. um grande poeta de férias?
Grande abraço
Henrique