quarta-feira, novembro 21, 2012

SOLIDÃO


Todos os dias  passo por ele
Sentado na balaustrada que separa o passeio
Ensimesmado, forjando silêncios
Ar tranquilo, vestido regularmente
Mas sempre parado, olhar distante e vagabundo
Nunca o vi pedir nada
Nunca o vi falar com ninguém
De vez em quando pendura sacos na mão
De comida penso eu
E à noite desaparece sei lá para onde
Ponho-me a imaginar no que pensa
É negro, africano genuíno, magro
Imagino que sonha com calores tropicais
Com os sabores há muito perdidos
E sinto pena, muita pena mesmo
Se calhar sem razão, sou eu que sonho por ele
Mas continuo a sentir pena
E continuo a imaginar que aquele andar desajeitado
E a alma tão enclausurada
São sinais da ausência de si mesmo
Da ausência de um país acolhedor, quente
Do meu país, e do dele também.

GED